sexta-feira, 20 de maio de 2011

O meio como determinante, o indivíduo como parte do problema


O modelo biomédico é baseado na orientação científica do século XVII, que consiste em uma visão mecanicista de saúde – considera o corpo uma máquina, como que formado por um conjunto de peças. Esse conceito tende a ver os mecanismos biológicos como base de vida; e os fenômenos mentais, como fenômenos secundários. Em muitos casos, desconsidera importantes aspectos psicológicos, físicos e sociais.
Acredito, no entanto, que a saúde está inteiramente ligada a tais aspectos. Fenômenos como o envelhecimento populacional, a diversificação do conceito de família, a revolução tecnológica, relações cada vez mais problemáticas com o meio ambiente e a alimentação precária estão relacionados ao processo de saúde-doença.
Em vídeo assistido em aula, tivemos acesso à visão de saúde de uma determinada comunidade carente, localizada em Novo Hamburgo. A maioria dos entrevistados entende como parâmetro de vida saudável o estilo de vida que cada pessoa leva, individualmente. Segundo eles, formas de manter a saúde em dia envolvem comportamentos como: cuidado com a alimentação, controle do estresse, prática de exercícios ou atividades físicas regulares, número de horas de sono adequado e exames médicos periódicos.
A noção de saúde que emana do documentário vai ao encontro das ideias defendidas por Goldstein. De acordo com o autor, o meio influi diretamente nos sintomas patológicos de um indivíduo. Não haveria distúrbios patológicos por si sós, deixando de lado a relação destes com a pessoa. Essa teorização encontra coro na conceituação de Canguilhem, que diz ser necessário partir do próprio ser vivo a compreensão de vida e a responsabilidade de distinguir o ponto em que começa uma doença.
Capra resumiria de forma eficiente a crítica à biomedicina tradicional. Para ele, estaríamos acostumados a isolar problemas de saúde como meras falhas “mecânicas”, sem levar em conta fatores sociais e práticas individuais que frequentemente se constituiriam parte da origem de tais enfermidades. Não se trata de uma simples menção à ausência de uma prática mais adequada de prevenção médica, antes disso é uma defesa de maior interdisciplinaridade no estudo e tratamento de eventos patológicos. Capra lança uma luz sobre fatores considerados por ele determinantes – e aceitos como intrínsecos à vida moderna, por convenção e passividade – no desenvolvimento de doenças, como o bombardeio químico da indústria alimentícia e a pressão em ambientes de trabalho.
As ideias de Capra, amplificadas pelas entrevistas registradas no documentário, encontram eco em métodos modernos de encarar a saúde humana. A noção de qualidade de vida é essencial nesse ponto de vista, e áreas como a medicina do trabalho, a terapia ocupacional e diversos campos da psicologia contribuem para mudar os paradigmas da biomedicina tradicionais.


Meline Rutkoski

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