segunda-feira, 23 de maio de 2011

Um pouco sobre Psicologia Transpessoal

“Transpessoal” (literalmente: “além do pessoal” ou “além da personalidade”)

Após o surgimento da Psicologia Humanista na década de 60, diante de várias
mudanças sociais, culturais, científicas, políticas, religiosas, dentre outras, também
começou a notar-se, nos meios científicos, particularmente nos Estados Unidos da
América, um aumento do interesse pelos chamados estados modificados de consciência
(EMC) (Weil, 1976). Surgiu assim um cenário que possibilitou pensar uma nova
perspectiva psicológica, a Psicologia Transpessoal também chamada de a "Quarta
A Psicologia Transpessoal nasceu da Teoria Humanista considerada a terceira
força, e foi muito além destes conceitos, valendo-se da chamada primeira força, Teoria
Positivista ou Behaviorista e a segunda força, a Teoria Psicanalítica Clássica. Quem
oficializou a psicologia Transpessoal primeiramente foi Abraham Masllow, junto com
Viktor Frankl, Stanislav Grof e James Fadiman em meados de 1968.
Maslow havia criado a Psicologia Humanista junto a Carl Rogers e foi o
maior porta-voz e articulador dessa teoria. Entre as importantes características, dessa
nova terapia, estava uma decisiva mudança da estratégia exclusivamente verbal, da
psicoterapia tradicional, para uma expressão direta das emoções e da exploração
da história do indivíduo e da motivação do inconsciente para os processos dos
pensamentos e sentimentos dos clientes, no aqui e agora. Um outro aspecto importante,
dessa revolução terapêutica, foi a ênfase da interconexão da psique e do corpo e a
superação do tabu contra o toque, previamente dominante no campo da psicoterapia;
várias formas de trabalho corporal, formando assim uma parte integral da nova
estratégia de tratamento. A Gestalt terapia de Fritz Perls, a bioenergética de Alexander
Lowen e outras abordagens neo-reichianas são destaques nas terapias humanísticas.
A partir destes movimentos teóricos, Maslow junto a Anthony Sutich,
perceberam que estavam deixando de fora um importante aspecto da experiência
humana: a dimensão espiritual e os estados alterados de consciência. Nesse sentido se
organizaram com pensadores como Grof e Fadiman, para criar o que chamaram, na
época, de Psicologia Trans-humanística, logo após sendo chamada Transpessoal, com o
objetivo de respeitar o espectro inteiro da existência humana.
Carl G. Jung que compreendia a importância da interpretação do produto dos
símbolos numa perspectiva de chegar perto da realidade psíquica onde se entende que
se constituem as especificidades das ciências do espírito, e a qualidade física da mente
teoria também usada na Teoria Transpessoal. Carl Gustav Jung pode ser considerado o
mentor máximo e o primeiro psicólogo transpessoal. As diferenças entre a Psicanálise
Freudiana e as teorias de Jung são muito bem representativas das diferenças entre
uma psicoterapia mecanicista e biomédica e uma mais humana e holística. Ainda
que Freud e muitos
da psicologia ocidental, atingindo os limites do paradigma cartesiano em Psicologia,
apenas Jung questionou radicalmente seus fundamentos filosóficos: a visão de mundo
de Descartes e Newton. Jung salientou, de modo convincente, aspectos não racionais
e não lineares da psique, que inclui o misterioso, o criativo e o espiritual como meios
válidos, ou formas holístico-intuitivas de conhecimento.
Jung não acreditava que o ser humano fosse uma mera máquina
biológica. O conceito de máquina é extremamente antropomórfico para ser um
conceito natural. Além disso, ele reconhecia que o processo de maturação psíquica
pode, em certos casos, transcender e muito os estreitos limites do ego e do inconsciente
individual. Por isso ele é considerado o primeiro representante da orientação
transpessoal em psicologia.
A Psicologia Transpessoal aceita especialmente estes preceitos, e adiciona a
capacidade do ser humano de alterar os estados da consciência, para alcançar uma
dimensão diferente da normal (vigília) chamada comumente de "Consciente". Vê o
homem como um todo apto a fazer suas escolhas transcendendo seus limites físicos e
psíquicos. A grande maioria dos teóricos da personalidade toma por fundamento básico
a consciência em estado de vigília, ou consciência normal, como sendo a única
possibilidade saudável de nível de percepção cognitiva. As características básicas desta
consciência normal, segundo Fadiman & Frager, é que a pessoa sabe "quem é", tem
perfeita noção de si mesma como uma individualidade, e seu sentido de identidade é
estável. Ou seja, a pessoa tem uma idéia clara de ser uma individualidade diferenciada
do meio que a cerca. Estudos vários sobre a imagem corporal e do sentido do ego
concluem que qualquer desvio desses limites é um grave sintoma psicopatológico. Só
que tal conclusão começou a ser seriamente questionada com vários relatos e pesquisas
sérias realizadas em várias partes do mundo, e a transpessoal chega para dar conta
dos seus discípulos tenham ido muito a fundo nas suas revisões
destas críticas.
A transpessoal procura abranger então o aspecto espiritual como uma importante
parte da psique humana, mas "sendo a psicologia transpessoal uma proposta de
psicologia científica, e não se filiando enquanto movimento a nenhuma concepção
religiosa específica de mundo, sua abordagem do espiritual se faz pela via do empírico,
pela atenção ao fenômeno experiencial em si, assim como pela consideração de seus
efeitos psicológicos e suas implicações para a compreensão da estrutura, da dinâmica e
do desenvolvimento da personalidade." (UNIPAZ, 2008)
Sobre os estados ampliados de consciência Stanislav Grof descreve:
experimenta existindo dentro dos limites de seu corpo físico (a imagem
corporal), e sua percepção do meio ambiente é restringida pela extensão,
fisicamente determinada, de seus órgãos de percepção externa; tanto a
percepção interna quanto a percepção do meio ambiente estão confinadas
dentro dos limites do espaço e do tempo (numa aceitação cultural
das premissas do paradigma cartesiano-newtoniano próprio da visão de
mundo ocidental nos últimos 300 anos). Em experiências psicodélicas (área
explorada por Grof em fins dos anos 50, na Tchecoslováquia, e nos anos 60
nos EUA) de cunho transpessoais, uma ou várias destas limitações parecem
ser transcendidas (este fenômeno também se encontra, de modo esporádico,
nas várias terapias psicológicas, tendo recebido nomes como "Experiências
Oceânicas" em Freud, "Experiências Culminates" em Maslow, "Consciência
Cósmica", em Weil, "Experiência Mística", etc). Em alguns casos, o sujeito
experiencia um afrouxamento de seus limites usuais de ego e sua consciência
e autopercepção parecem expandir-se para incluir e abranger outros
indivíduos e elementos do mundo externo. Em outros casos, ele continua
experienciando sua própria identidade, mas numa percepção de tempo
diferente, num lugar diferente ou em um diferente contexto. Ainda em outros
casos, o individuo pode experienciar uma completa perda de sua própria
identidade egóica e uma total identificação com a consciência de uma 'outra'
entidade. Finalmente (em similaridade com o que experiencia o místico),
numa
transpessoais (experiências arquetípicas, união com Deus, etc.), a
consciência do sujeito parece abranger elementos que não têm nenhuma
continuidade com a sua identidade de ego usual e que não podem ser
considerados simples derivativos de suas experiências do mundo
tridimensional".
Os modelos terapêuticos transpessoais consideram nossa consciência comum
um estado contraído e defensivo. A consciência ótima é considerada bem mais ampla e
potencialmente disponível e qualquer momento, se a contração defensiva for relaxada.
A perspectiva fundamental do crescimento é, pois, abandonar essa contração defensiva
e remover os obstáculos ao reconhecimento do potencial ampliado sempre presente por
meio do apaziguamento da mente e da redução das distorções perceptivas.
Dentro da psicologia existem os níveis de consciência que são denominados
por: a Sombra (self distorcido), o Ego (self individual), Biossocial (preocupação com
o outro), Existencial (crescimento, corpo/mente, e auto-atualização) e Transpessoal
(contato com o inconsciente coletivo, limites do ego são ultrapassados, entre outros
fenômenos). É por abranger todos esses níveis da existência que a Transpessoal
é considerada uma terapia holística, abrangendo também outras teorias de forma
transdisciplinar. Dentre as pesquisas da orientação psicológica transpessoal a
experiência cósmica tem estado em foco, e para reconhecê-la e distinguí-la de outros
estados de consciência os diversos autores propuseram estas características:
Unidade: é o desaparecimento da percepção dual Eu-Mundo.
Inefabilidade: a experiência não pode ser descrita com a semântica usual.
Caráter Noético: um senso absoluto de que o que é vivido é real, às vezes muito
mais real do que a vivência cotidiana comum,
Transcendência do tempo-espaço: as pessoas entram numa outra dimensão; o
tempo não existe mais e o espaço tridimensional desaparece.
Sentido do sagrado: o senso de que algo grande, respeitável e sagrado está
acontecendo.
Desaparecimento do medo da morte: a vida é percebida como eterna, mesmo se
a existência física é transitória.
Mudança do sistema de valores e comportamento: muitas pessoas mudam seus
valores no sentido dos valores B de Maslow (Beleza, Vontade, Bondade,etc). Há uma
subestimação progressiva dos valores ditos ditos materiais e do apego ao dinheiro.
O “ser” substitui o “ter”.
Na terapia, a psicologia transpessoal faz uso de diversas técnicas que
possibilitam o encontro com estados de consciência alterados e que abranjam o
indivíduo holisticamente. Nas sessões terapêuticas emprega-se uma metodologia
bastante variada, coerente com a necessidade e os objetivos do paciente. As técnicas
utilizadas têm o intuito de conduzir a pessoa a níveis de compreensão cada vez mais
elevados através do autoconhecimento e exercícios de expansão da consciência.
Além da psicoterapia propriamente dita trabalha-se também com desenho,
música, meditação, visualização criativa, reiki, respiração e outras ferramentas
conforme os conteúdos abordados. Geralmente as sessões duram aproximadamente
uma hora. E assim, a terapia ajuda você a ver a si próprio e a vida como universos co-
dependentes, e estimula a abertura do coração para um contato maior com o divino que
existe em cada um de nós. Desta forma alcançando conceitos como:
Conceito de vida: o trabalho com a morte, tanto a biológica quanto as mortes
psicológicas, em uma mesma existência são fundamentais neste referencial e resgatam
um novo conceito de ego, através de trabalhos de morte e renascimento do ego.
Conceito de ego: Um ego bem estruturado, mas flexível, que se expande e sob
certas circuntâncias se dissipa. É forte o bastante para se permitir “morrer” em legítimas
experiências do transpessoal e renascer cada vez mais saudável.
Conceito de unidade: Todo esse processo converge para a experiência da
unidade – o resgate da percepção de que somos parte do todo e simultaneamente o todo
está em nós. A separação só ocorre na dimensão mais concreta dos cinco sentidos.


Texto apresentado pelos integrantes (Daniele Mello, Débora Cardoso, Fagner Borba, Marcelo Zwonok, Nathalia Ruas) do grupo de Seminário de Integração. Aula do professor André Felipe Aço.

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